Marisa. A volta por cima?
Estudo de CasoCom mais de 70 anos de existência, a varejista Marisa conquistou espaço no mercado nacional como uma marca para todas as mulheres. Contudo, a partir dos anos 2000, a empresa enfrentou diversos problemas, perdeu espaço e parecia fadada a desaparecer. Agora, sob nova gestão, a Marisa começa a dar sinais de que pode reagir, batendo recordes de vendas e tentando reassumir o protagonismo de antigamente.
Em Resumo
A Marisa conquistou espaço entre a classe C, mas com o passar do tempo para manter o diferencial em preço a qualidade caiu e a loja se afastou das tendências de moda. Após a troca da gestão, esses problemas passaram a ser tratados e a empresa voltou a apresentar bons números.
Os desafios
Manter os preços baixos, foco no público da classe C, mas sem a qualidade e a atratividade de seus produtos se deteriorarem.
Os resultados
Com a troca da gestão em 2016, todos os pontos passaram a ser devidamente endereçados e a companhia mostra pelos números que está entre as marcas relevantes de varejo de moda no Brasil, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia.
O caso
- Como tudo começou?
A história da empresa começou em 1948, quando Bernardo Goldfarb adquiriu a Marisa Bolsas. Goldfarb aprendeu com seu pai a arte da confecção de acessórios, mas foi na venda a pronta-entrega de estoques dos grandes fabricantes a preços competitivos, que este pioneiro empreendedor encontrou seu nicho de atuação. Dois anos mais tarde, o objetivo de encantar o público feminino culminou na criação da Marisa Malhas.
Desde o início, a estratégia foi direcionada para atingir o público da classe C, crescendo os seus negócios e se tornando referência na venda de moda para esta que é a nova classe média brasileira. "O melhor da moda pelo melhor preço" é uma frase bastante associada a essa estratégia de posicionamento.
A partir de 1952, a Marisa iniciou sua expansão pelo Brasil, abrindo lojas em Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Manaus. Em 1982, a Marisa já estava presente fisicamente em todas as regiões do país. Em 1991, acompanhando as tendências do mercado de varejo, inaugurou a sua primeira loja em shopping center, na cidade de São Paulo.
Os anos 90 foram especialmente importantes para o desenvolvimento da empresa. A varejista verificou a necessidade de um novo modelo de loja que aumentasse a variedade de produtos oferecidos para toda a família, criando maior conveniência de compra para suas clientes em um mesmo local. Essa praticidade estava alinhada à experiência positiva de compra nas lojas. Enquanto a primeira loja Marisa tinha apenas 21m² de área de vendas, nos anos 90 já passaram para uma média de 1400m². O novo formato marcou a entrada da Marisa nos segmentos de roupas masculinas e infantis, além de cama, mesa e banho. A nova rede manteve o alvo nas camadas de baixa renda e se apresentou como uma espécie de Marisa ampliada, semelhantes as lojas de departamento nos Estados Unidos, como a Macys, por exemplo.
O segmento feminino continuou a ser o carro-chefe nas novas lojas do grupo, representando sozinho quase 50% dos itens comercializados. Além dos novos nichos, a Marisa lançou, em 1999, um cartão para oferecer crédito facilitado, com compras parceladas em até cinco vezes. O Cartão Marisa foi uma ferramenta importante na estratégia de negócios para a fidelização da clientela, bem como para o aumento das receitas em vendas.
Uma outra novidade, apresentada em 1999, foi a inauguração da Marisa Virtual, sendo a primeira varejista de moda a fazer e possibilitando às suas clientes a realização de compras pela internet em seu website. A partir de 2001, a fim de aprimorar e atualizar a imagem da marca Marisa, a empresa desenvolveu uma nova fase de modernização, expandindo sua metragem e implementando o conceito de exposição dos produtos nas lojas por estilo de vida.
- Abertura de capital e os problemas
Em 2007, ocorreu a abertura de capital da Companhia e, no ano seguinte, houve o fechamento de um acordo comercial com o Banco Itaú para o lançamento do cartão de crédito ItauCard Marisa. Em 2010 a Marisa Lingerie, que introduziu no mercado brasileiro um novo conceito de venda de roupa íntima. A confiança parecia em alta e somente de 2009 a 2013, 180 unidades foram abertas.
No entanto, olhando em perspectiva, a euforia escondeu uma série de erros estratégicos. Focada nas consumidoras da classe C, a Marisa manteve os preços baixos, mas viu a qualidade e atratividade de seus produtos se deteriorarem. A evolução das redes sociais fez com que a consumidora jovem passasse a ter mais acesso à moda e às tendências brasileiras e mundiais, gerando um desejo por conexão com essa nova forma de consumo.
Enquanto algumas concorrentes, como a própria Renner, conseguiram se posicionar para terem produtos mais ligados a essas tendências, a Marisa continuou com produtos baratos, porém pouco atraentes para o seu principal público. O resultado foi que a cliente que trabalhava fora, estudava e tinha vida social no fim de semana, começou a deixar as lojas da marca, restando somente a dona de casa, a marca acaba ficando datada, além do fato que esse público em geral consome bem menos.
A cadeia de fornecedores, focada majoritariamente em custos, também acabou sendo um ponto a prejudicar o produto final da empresa, já que o preço baixo não estava sendo suficiente para compensar a qualidade média entregue. Toda parte de profissionalização do varejo, assim como treinamento e softwares, para encarar um novo momento das vendas mostraram um sinal de esgotamento e a profissionalização das principais concorrentes foi outro ponto a depor contra a Marisa.
Para finalizar o cenário de tempestade perfeita, o cenário macroeconômico mudou drasticamente a partir de 2014, fazendo com que todo o varejo sentisse os efeitos das altas taxas de desemprego. Com a classe C, principal alvo da Marisa, espremida pela crise, os números desabaram. Entre 2013 e 2018, a ação da Marisa caiu 87% na Bolsa por causa de um desempenho financeiro sofrível.
- A volta por cima?
O início da mudança começou em 2016, quando a gestão começou a se profissionalizar. Márcio Goldfarb, filho do fundador, deixou a presidência da companhia após 26 anos para atuar no conselho de administração. Marcio Pimentel ocupou o posto em julho de 2019.
A primeira providência da Marisa para reconquistar suas clientes e tornar os produtos mais atraentes. As peças começaram a seguir mais as tendências de moda, ainda que de forma adaptada para o perfil de suas consumidoras, que não trocam o guarda-roupa com tanta frequência. Fornecedores foram revistos, e o controle de qualidade dos produtos ficou bem mais rígido.
O processo fez com que os preços aumentassem, como já era previsto, mas o controle nesse aumento foi feito de modo que a visão de custo benefício compensasse esse fator. Além de promoções agressivas para atrair as consumidoras, o próximo passo foi reorganizar as lojas, que não refletiam os mais modernos layouts e dificultavam o momento da compra. Os funcionários foram treinados, o que não acontecia havia quatro anos, resolvendo problemas como a fila para pagar as compras nas lojas. Por fim, os produtos foram renovados, as lojas deficitárias acabaram fechadas e o site de comércio eletrônico passou por reformulação.
Em 2019, a companhia celebrou o melhor desempenho nos últimos cinco anos com crescimento consecutivo em quatro semestres das vendas nas mesmas lojas, o melhor indicador do varejo. Nas receitas, houve aumento de 7%, de R$ 661 milhões em dezembro de 2018, para R$ 707 milhões, no mesmo período do ano anterior.
Com o cenário pronto para completar o processo de recuperação e trazer o mercado definitivamente para o seu lado, a Marisa viu a pandemia atrasar seus planos. Com o fechamento das lojas e um aperto econômico, os números voltaram a apresentar queda em 2020. Com mais liquidez e uma gestão que vem se provando eficaz, a Marisa tenta provar que a volta por cima é sim, de verdade.

Com a troca da gestão, a partir de 2016, todos os pontos passaram a ser devidamente endereçados e a companhia mostra pelos números que está de novo no tabuleiro das marcas relevantes de varejo de moda no Brasil. Mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, a trajetória de recuperação tem tudo pra continuar e essa marca tão simpática fazer parte do mercado nacional por muito tempo.

A Marisa é uma marca de mais de 70 anos, muito brasileira e que tem um posicionamento claro de atender o público feminino com moda acessível.
Depois de crescer fortemente nos anos 90, ela perdeu o fôlego devido a fatores que remontam a:
1) uma desconexão com o público mais jovem em relação às coleções;
2) quebra da expectativa de qualidade dos produtos na cadeia de fornecimento;
3) necessidade de maior profissionalização da gestão;
4) ausência de rápida adaptação para o universo do e-commerce.

- Você acredita na recuperação da Marisa? Quais os fundamentos dessa recuperação?
- Se você estivesse na cadeira de CEO da Marisa, quais seriam seus próximos passos estratégicos?
- Quais os principais diferenciais que você enxerga na Marisa? Acha que são facilmente replicáveis?
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